sábado, 5 de janeiro de 2008

BRASIL SEM CONSERTO NUM CONCERTO DE POUCAS VOZES


A vida se estende perante os anos, e os anos se estendem perante as ações de cada um de nós, armados ou desarmados, mudos ou calados, fortes ou fracos, almados ou desalmados; uns insistem em mudanças e fazem, vão à luta, gritam pelos direitos, outros insistem em pegar carona nas mudanças alheias e do meio. Outros exercem somente a síndrome ativa da destruição, as crianças se aderiram às máquinas findando o sentimento pueril em dizer a benção com os lábios lambuzados de doce caseiros, os humanos querem mudar a si mesmo para corrigir a sua própria natureza e deter a passagem do tempo; cabeleiras, lábios, pômulos, seios, bundas, mudanças externas vistas a olho nu, mas despida aos olhos internos da consciência, da essência em sermos nós mesmos e fazer por onde mesmo em caminhos sórdidos. O ladrão que rouba um saco de pão seven boys sofre um castigo maior que um empresário responsável pela morte de um operário num acidente que podia ser evitado, o roubo não é menos roubo quando cometido em nome de leis ou de políticos, poderosos, mas infelizmente em nossos pais a realidade é outra bem mais imposta, nunca seremos iguais, pois não vivemos em igualdade, haverá sempre um faminto maltrapilho na esquina pedindo esmola para um engravatado, haverá sempre meninos descalços observando tênis importados em vitrines requintadas, haverá sempre mocinhos em alta velocidades exibindo o carro importado que o papai político, empresário o presenteia com as finanças da “lavagem” do dinheiro mais suja que aquela “lavagem” que alimentam os porcos dos lixões subumanos, e sempre haverá um cego abrindo caminho encostado em sua bengala e tropeçando nos buracos das calçadas deixados pela falta de atitude dos governantes, estamos cada dia presos e condenada a vivenciar a partida da complacência regada à falta de paciência que rege a orquestra de um país sem coro, sem vozes que exibem um timbre empunhando proteção aos mais fracos, desprovidos dos que os outros tem em sobra e desperdiçam.
Outro dia tive um sonho, que estava virando nosso país ao avesso como quem vira uma camisa amarrotada, e na etiqueta estava escrito “Brasil sem conserto num concerto de poucas vozes” como dizia monsenhor Oscar Arnulfo Romero, Arcebispo de San Salvador, assassinado em 1980; “A justiça é como as serpentes; só morde os descalços”



Romir Fontoura

Nenhum comentário: