Alimentava-se de veredas para desvendar sua eterna morada,
Seus constantes rodopios pelo espaço ao longo dos passos,
Bem criado, quando queria comer gritava a dona.
Surrupiava a voz do vento para imitar o jeito da noite falar,
E quando acordava e não via o sol rosnava como seu cão pulguento,
Cortava toras de madeiras que um dia vestidas de folhas serviram de sombras para
Os viajantes.
Deitava, e pelos furos nas telhas velhas via o céu carregado de pontos cintilantes,
Imaginava estar perto, mas quando sacudia a carcaça rolando pelo colchão de capim
Sabia que estava muito longe.
Empurrava os dias com as mãos calejadas, alimentava a criação e se nutria das cordas do velho relógio pendurado na parede suja de fumaça.
Guardava a palha, pois já sabia que ia chover.
E da janela cuspia pedaços de fumo que servia de consumo para as tardes sem rumo.
Montava em seu cavalo cinzento e galopava até não sentir mais lamento,
Abria a garrafa com o dente dava uma talagada e guardava o resto para outrora
Arrastava sua carcaça pela vastidão da terra altiplana, mas já sabia que a vida não era plana como o caminho que sempre seguiu, e quando reunia os mais jovens falava de tudo que lhe convinha.
Desde a labuta até a vinha, ensinava, respondia, lamentava e sabia que o fim um dia vinha.
E quando esse dia chegou, o povo chorou.
O decrépito abandonou sua carcaça
Já não mais respirava o ar da graça,
E no dia de seu enterro, ate seu cão pulguento.
Sentia tal sofrimento, latia com rouquidão.
Agora seu dono era parte de uma nova criação.
E na cruz cravejada na terra uma frase que dizia assim:
“Surrupiava a voz do vento para imitar o jeito da noite falar”
.,.,Romir Fontoura.,.,
Um comentário:
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