sábado, 12 de setembro de 2009

O MEU AMANHÃ É HOJE




A validade perde a validade,
as coisas viram outras coisas,
a lágrima vira um sorriso,
e o sorriso vira um começo.

O meu exato momento do amanhã,
é a construção do hoje,
Vencem; O prazo, a hora, a data
e retornam em um novo tempo.

A formação da existência são os
moldes para os dias, e num piscar de
Olhos, deixamos de existir,
e o amanhã desaparece como
um balão de gás no céu.

Os conceitos, os preconceitos,
os efeitos, os defeitos.
São conceitos da formação de cada um,
antes da existência do amanhã.

Se um dia me faltar o amanhã,
o meu amanhã é hoje.


((Romir Fontoura))

CASARÃO (O VULTO DOS TEMPOS)


No porão do casarão,
as vozes evocam um luto,
como um coro ecoante.

E no riso inexplicável dos condenados
as mãos vazias saudando o martírio,
e na mente escancarada, exposta,
uma solene utopia vulnerável.

Varias frinchas em cada canto,
que passam várias almas,
e cicatrizam os passos inusitados.

No resguardo da lembrança,
A reminiscência dos velhos atos,
que se seduz no mistério de cada quarto.

O casarão no caminho solitário,
como um forte apache de valentes guerreiros.

Há poesia na sala que reunia-se os cultos,
e oculto sobre os vitrais,
as escamas de certos versos transparentes.

Há um trecho da infâmia entre linhas,
na flecha cravada no sábio cego
que sangrou pelo corredor.

Onde nem o crespúsculo do coração mais eminente
viu as sombras do passado que escondia ali.

O casarão destruído, corroído sob cinzas,
vários anos que abrigaram sobre minha cabeça
o vulto dos tempos.


Romir Fontoura

REINO DE PEDRAS




Podemos fechar as portas maciças do reino de pedras,
dormir ao efeito dos antigos feitiços,

acordar envolto no mesmo lençol que cobria os guerreiros

e cobrir o rosto com suas mascaras.


Gladiadores de todos os dias,

somo nós, no mesmo reino

um sorriso esfomeado,

uma espada para cortar o lamento.


Os bobos da corte manuseando a capa do rei

comandante supremo do mesmo mal.


Um caminho que leva a masmorra,

onde as sombras tem espíritos,

um choro de lágrimas pigmentadas

quando as cores se misturam

as mortes se igualam.


Primaz comandante impiedoso

os vassalos lambem o chão,

os cortes se aprofundam

e a mentes se definham.


Os cadeados trancam os portões,

as bocas se calam,

a voz que quer gritar, surra os timbres

as algemas marcam os pulsos.


O nobre de passos cadenciados,

o lugar ainda é o mesmo para todos,

o reino tem escadas,

mas os mendigos também tem pernas.


A torre é bem alta,

do alto, os urros viram sussurros

os chicotes labutam sobre a pele suada,

o sangue que corre, é o mesmo que escorre.


Um conflito que gera um grito,

um bando de aflitos, talvez filhos da mesma cria.


Fecham-se as portas do reino de pedras

impedindo que os esfomeados entrem e comam tudo,

os renegados já mastigam o ódio desde que nasceram,

a voz que quer gritar não tem força motriz para abrir o portão.


A torre do reino é bem alta,

mas o céu ainda está distante

do alto, não enxergamos as cores dos corpos

e nem a distinção entre eles.

,...,Romir Fontoura,...,