quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Quando apaga a luz do dia (Corujas andantes)



Quando apaga a luz do dia, percebo a noite meio que perdida pela madrugada insinuante.
E as "corujas andantes" com seus olhos grandes e esbugalhados

nadam em passos, como um caminheiro itinerante.

São eles que passam por mim, sem um vintém no bolso mas com vozes afiadas cantando canções desafinadas,

e lá onde minha vista alcança a suntuosidade, dormem as "senhoras refinadas", assim retribuo o teor da canção com minha cálida satisfação.

Ah... se pudessemos gritar agora, e acordar as senhoras refinadas

Para uma dança de salão.

Mas, a rua vazia e taciturna, me faz "andar esparramado"

retorcido como um arame que amarra a cerca, mesmo assim

ainda chego ao alvo, mesmo que minha sombra me perca.

Ah... se pudessemos gritar agora, zombar do vento que não trouxe a chuva, da donzela sem as curvas, das torneiras e suas aguas turvas.

A rua extensa e flutuante me faz plainar como um beija flor, só que ao invés de sugar o nectar da flor, sugo o álcool do copo, vou andando só de um lado para ficar “destilado”.

E deste lado vou descendo escorando nas corcovas das paredes

Como um “goleiro” que se prendeu nas redes, depois de perambular pelas vias da cidade, mesmo desprovido de sanidade.

Chego em casa e vejo que tenho é muito sono e sede, mato a sede

com garrafadas... dessa vez de água, e estico a carapaça em sono, e assim continua o ciclo...

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Alguns dizeres a mais;

"Corujas andantes": Criaturas que saem a noite e só voltam para casa no começo do dia.
"Goleiro": Neste caso quem bebe a composição; "C2H5OH" Álcool etílico".
"Senhoras refinadas": Tipo de madames que quando ingerem álcool, também se transformam em corujas andantes.
"Andar esparramado": Andar de um lado a outro preenchendo espaços.


Romir Fontoura



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