Exala a voz, que cria motivos, a alma sangra e escorre.
Nada mais estanca, a dor da sombra é escura .
Mas quando ressurge, surge crescente, consistente como uma pilastra grega
Escarra nos pés dos seus senhores, chefes, comandantes supremos.
E anda sem destino pela calçada onde pisam as crianças descalças.
Saúda os vencidos, beija os maltratados e abraça os renegados
Bebe do malte, toma do chá, come da carne...
E continua andando sem destino, como um pivete abandonado...
Solta a voz, grita como um vendedor de artigos importados.
Dança com os lobos nas savanas, respira como os tuaregues no deserto.
E continua andando sem destino em planaltos, asfaltos, avenidas
Em terras distantes segue os amantes, banha-se nos rios perenes
Toca as sirenes..
Invade a casa dos magnatas come um pedaço de queijo e goiabada
Bebe água da fonte, defeca atrás dos montes e arrota na cara dos monges..
Agora já quer voar....
Sobe pelas turbinas, pede pra fechar as cortinas ..
Toma um drink, admira a aeromoça, e quando pula de para quedas cai na poça...
E continua andando sem destino, dorme no relento, acha um acalento
Toca um instrumento que retumba, visita a catacumba.
Agora já quer nadar...
Afana um caiaque, desce a corredeira, perde a estribeira
E rola de braçadas...
Visita o asilo, sente o brilho
Conversa em alemão com o velho “Riesel”
Troca moedas em óleo diesel.
Agora já quer dirigir...
Enche o tanque, assume o volante
Paisagens alteradas pela janela, da carona a moça banguela...
Compra uma dentadura, presenteia a criatura
Esquece a amargura...
Agora já quer fumar....
Junta-se aos hippies cura ate a gripe
Estende o pano, exibe os feitos, dá mais um trago
Balança a cabeça e enche o peito, vende os artefatos
Lembra-se dos fatos, e ri da desgraça...
Tira leite das vacas, usa chapéu de couro
Corre do touro, pega lenha pro fogão
Usa botas e esporão...
E continua andando...
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